Ruminações tardias

Ruminações tardias

Agora estamos lentos e cansados,

Mas não extintos como um vulcão,

Lava petrificada nas encostas,

Memórias do fogo em cores cítricas,
Deuses da suave noite revolvida,

Mãos adormecidas sobre os joelhos,

Rostos estranhos em nossos espelhos.
A luz já não tem a mesma velocidade,
A estrela espiã chega atrasada,

A noite não virá como uma promessa,

Não há pressa em decretar paciência.
Podemos não fazer mais o que seria,
Aquilo que o corpo profetizava,
Não fosse o tempo uma sombra,
Meta para sempre inatingível.

Por que tantos homens agachados

Enquanto o vento sibila nas esquinas

Feito notícias velhas resumidas?

Por que essas mulheres choram

Há, porém, algumas que dançam,

Em meio aos cantos de rotina?

Por que essas crianças nos fascinam?
E essa chuva triste de outono,
Depois das horas abafadas,
E essas ruas fundas alagadas,

E essa árvore como um corpo tombada!
Por sorte o sinal não está fechado,
Ainda é tempo de surgir do outro lado,
Como um cometa silencioso e gasto
Que se evadiu do universo num pinote.

 


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